"Almas
conscientes,
Antes de tudo, por favor, aceitem o meu amor. Essa é a única
coisa com a qual eu posso dar-lhes as boas vindas ao isolamento e reclusão
destas montanhas. Na verdade, eu nada mais tenho a dar a vocês. Eu quero
compartilhar com vocês o infinito amor que a proximidade com o divino criou em
mim. Eu quero distribuí-lo. E a maravilha disso é que quanto mais eu
compartilho esse amor, mais ele cresce! Talvez a verdadeira riqueza seja aquela
que aumenta com a distribuição. A riqueza que diminui quando é compartilhada,
não é verdadeira riqueza, de modo algum. Vocês então aceitam o meu amor?
Eu vejo aceitação em seus olhos e eu vejo também que seus
olhos se tornaram repletos de amor em reciprocidade. Amor invoca amor e ódio
invoca ódio. Tudo aquilo que nós damos retorna para nós. Essa é uma lei eterna.
Assim, tudo aquilo que você deseja receber, é aquilo que você deve dar ao
mundo. Você não pode receber flores em retribuição a espinhos.
Eu vejo flores de amor e paz desabrochando em seus olhos. Eu
estou em profunda gratidão por isso, agora, nós não somos muitos aqui: o amor
nos junta e faz com que muitos se tornem um. Corpos físicos estão separados e
continuarão separados, mas existe alguma coisa por trás dos corpos que se
encontra no amor, que se torna um através do amor. Só depois dessa unidade, de
nos tornarmos um, é que alguma coisa pode ser dita e compreendida. A
comunicação só é possível no amor.
Nós nos reunimos nesse lugar isolado para que eu possa dizer
algo a vocês e vocês possam me ouvir. Esse dizer e esse ouvir não são possíveis
sem uma corrente de amor. As portas do coração somente se abrem para o amor. E
lembre-se de que somente quando alguém ouve com o coração, e não com a cabeça,
é que o ouvir acontece. Você pode me perguntar, 'o coração também ouve?' e eu
lhe direi que sempre que o ouvir acontece, é sempre através do coração. A
cabeça nunca ouviu qualquer coisa. A cabeça é uma pedra surda. E isso também é
verdadeiro quanto ao falar. Somente quando as palavras vêm do coração, elas são
cheias de significado. Somente quando as palavras vêm do coração, elas têm a
fragrância das flores frescas; se não for assim, elas serão apenas envelhecidas
e murchas, elas serão artificiais - flores plásticas.
Eu vou derramar o meu coração em vocês, e se os corações de
vocês permitirem-me entrar, haverá um encontro e uma comunicação. E então,
naquele momento de encontro, aquilo que as palavras são incapazes de expressar,
será comunicado. Muitas coisas não ditas serão ouvidas dessa maneira - aquilo
que não pode ser colocado em palavras, aquilo que fica entrelinhas, também será
comunicado. Palavras são indicações muito impotentes, mas se ouvidas em paz
total da mente e em silêncio, elas se tornam potentes. Isso é o que eu chamo de
ouvir com o coração.
Mas, geralmente, mesmo quando ouvimos alguém, nós
permanecemos cheios de nossos próprios pensamentos. Esse é o 'falso ouvir'.
Então você não é um shravak, um ouvinte. Você está apenas sob a ilusão de que
você está ouvindo, mas de fato você não está. Para 'ouvir corretamente', é
necessário que a mente esteja em estado de observação, completamente
silenciosa. Quando você está apenas ouvindo e nada mais está fazendo, somente
então você será capaz de ouvir e compreender, e essa compreensão se tornará luz
e transformação dentro de você. Se assim não acontecer, então você não está
ouvindo a quem quer que seja, mas apenas a si mesmo, você permanece cercado por
um tumulto enfurecido dentro de você. E quando você está envolvido dessa maneira
nada pode ser comunicado a você. Então você parece estar vendo, mas não está;
você parece estar ouvindo, mas não está.
Cristo disse: 'aqueles que têm olhos para ver, que vejam.
Aqueles que têm ouvidos para ouvir, que ouçam.' Estava ele dizendo que as
pessoas não tinham olhos nem ouvidos? É claro que elas tinham olhos e ouvidos,
mas a mera presença de olhos e ouvidos, não é suficiente para ver e ouvir. Algo
mais é necessário e sem isso a existência ou não existência de olhos e ouvidos
dá no mesmo. Aquele algo mais é o silêncio interior e a consciência
observadora. Somente quando essas qualidades estão presentes é que as portas da
mente se abrem e algo pode ser dito e ouvido.
Eu espero que vocês me ouçam dessa maneira durante o período
deste campo de meditação. Uma vez que vocês tenham aprendido isso, isso se
tornará sua companheira por toda a vida. Isso será o suficiente para livrá-lo
de preocupações triviais. Você poderá se despertar para o grande universo
misterioso externo e você poderá experienciar a eterna e infinita luz de
consciência escondida por trás do tumulto de sua mente.
Ver corretamente e ouvir corretamente não são meras
necessidades para este campo de meditação, são, na verdade, os pilares para
todo um viver corretamente. Da mesma maneira que tudo é claramente refletido
através de um lago totalmente calmo, sem ondas, também é verdade que o divino
será refletido em você quando você se tornar calmo e quieto como o lago. Eu
estou vendo um grande silêncio crescendo em vocês. Os seus olhos - a sede pela
vida que eu vejo em vocês - estão me convidando a dizer aquilo que eu quero
dizer. Eles estão me apressando a revelar as verdades que eu tenho visto e que
mexeram com minha alma, porque os seus corações estão ansiosos e impacientes
por compreendê-las. Vendo o quanto vocês estão desejosos e prontos, meu coração
está também pronto para se derramar em vocês. Nessa paz que nos circunda, com o
estado cheio de paz de suas mentes, eu certamente serei capaz de dizer o que
quero dizer para todos vocês. Se eu tivesse encontrado ouvidos surdos diante de
mim, eu iria me segurar. A luz não permanece do lado de fora quando ela
encontra as portas de sua casa fechadas? Da mesma forma eu fico parado do lado
de fora de muitas casas. Mas é um bom sinal, as suas portas estarem abertas. É
um bom começo.
Amanhã de manhã começaremos a nossa jornada de experimento de
meditação por cinco dias. Como suporte para isso, eu gostaria de dizer algumas
poucas coisas para vocês. Para a meditação, para a percepção da verdade, o solo
de suas mentes tem que estar preparado da mesma maneira que uma pessoa precisa
preparar o solo para cultivar flores. Assim eu gostaria que vocês
compreendessem alguns sutras, alguns pontos chaves.
O primeiro sutra é: viva no presente. Durante os dias do Campo
não se deixem levar pelo fluxo mecânico de seus pensamentos a respeito do
passado e do futuro. É por causa disso que o momento vivo, o momento que
realmente existe, é desperdiçado e se perde desnecessariamente. Nem o passado
nem o futuro existem. Um é apenas a memória, o outro é apenas imaginação.
Somente o presente é o momento vivo e verdadeiro. E se é para se conhecer a
verdade, ela só pode ser conhecida se estivermos no presente.
Durante esses dias de meditação, mantenham-se conscientemente
livres do passado e do futuro. Aceite que eles não existem. Somente o momento
em suas mãos, o momento em que você está, existe. Você tem que viver nele, e
vivê-lo totalmente.
Esta noite durma tão profundo como se todo o seu passado
tivesse sido deixado de lado. Morra para o passado. E de manhã, acorde como um
novo homem numa nova manhã. Não deixe que acorde aquele mesmo que foi para a
cama. Deixe que aquele tenha um bom sono. Deixe que no lugar dele acorde o que
está sempre novo e sempre revigorado.
Mantenha continuamente em sua lembrança por todo o tempo esse
viver no presente, e fique alerta para que aquele pensamento mecânico a
respeito do passado e do futuro nem volte de novo. Para isso, é suficiente
permanecer atento. Se você permanecer atento, ele não vai se desencadear. A
consciência destrói o hábito.
O segundo sutra é: viva naturalmente. Todo o comportamento do
homem é artificial e formal. Nós sempre nos mantemos encobertos por um falso
manto e por causa dessa coberta nós gradualmente esquecemos nossa própria realidade.
Você tem que deixar cair essa pele falsa e jogá-la fora. Nós nos reunimos aqui,
não para encenar um drama, mas para nos conhecermos, para compreendermos a nós
mesmos. Da mesma forma que os atores de uma peça removem seus trajes e
maquiagem e colocam-nos de lado após a apresentação, nestes cinco dias, você
tem que remover suas falsas máscaras e jogá-las fora. Deixe que aquilo que é
original e natural em você venha à tona e viva nisso. A meditação somente
cresce numa vida simples e natural.
Durante esses dias de meditação, saiba que você não tem que
manter nenhuma posição, você não é especial, você não tem qualquer status.
Jogue fora todas essas máscaras. Você é simplesmente você, um ser humano comum,
sem nome, sem status, sem classe, sem família, sem casta - simplesmente uma
pessoa sem nome, um indivíduo muito comum. Você tem que viver desse jeito. E
lembre-se que essa é também a nossa verdadeira realidade.
O terceiro sutra é: viva só. A vida de meditação nasce em
completa solidão, quando a pessoa está totalmente só. Mas geralmente o homem
nunca está só. Ele está sempre cercado pelos outros. E quando ele não está no
meio da multidão externa, ele está em uma multidão interna. Essa multidão tem
que ser dispersada.
Não permita que a multidão se reúna dentro de você. E quanto
ao lado de fora, viva por si próprio como se você estivesse sozinho neste
Campo. Você não tem que manter relacionamentos com ninguém mais. No meio desses
incontáveis relacionamentos vocês se esqueceram de vocês mesmos. Todos esses relacionamentos
- nos quais vocês são amigos ou inimigos de alguém, pai ou filho, esposa ou
marido - absorveram vocês de tal maneira que vocês são incapazes de conhecer a
si mesmos em suas próprias individualidades.
Alguma vez vocês já tentaram imaginar o que vocês são, fora
de todos esses seus relacionamentos? Alguma vez vocês já se livraram das
vestimentas desses relacionamentos e viram a si mesmos sem elas? Distancie
vocês mesmos de todos esses relacionamentos e vejam que vocês não são filhos de
seus pais e mães, não são os maridos de suas esposas, nem o pai de suas
crianças, nem o amigo de seus amigos, nem o inimigo de seus inimigos - e o que
sobra é o seu verdadeiro ser. Aquela entidade remanescente é o que você é em si
mesmo. Durante esses dias você tem que viver sozinho nesse ser.
Seguindo esses sutras, a sua mente chegará a um estado, o
qual é uma necessidade absoluta para a compreensão da paz e da verdade. Ao lado
desses três sutras, eu quero explicar a vocês os dois tipos de meditação que
nós começaremos a fazer a partir de amanhã de manhã.
A primeira meditação é para a manhã. Durante essa meditação
você deverá manter sua coluna espinhal ereta, fechar os seus olhos e manter o
seu pescoço reto. Seus lábios devem estar fechados e sua língua deve tocar o céu
da boca. Respire devagar, mas profundamente. Mantenha a sua atenção próxima do
umbigo. Mantenha-se alerta quanto ao tremor que você sentir no umbigo devido à
respiração. Isso é tudo o que vocês têm que fazer. Esse experimento acalma a
mente e esvazia os pensamentos completamente. A partir desse vazio a pessoa
finalmente entra dentro de si mesma.
A segunda meditação é para a noite. Estenda seu corpo no chão
confortavelmente e deixe todos os seus membros se relaxarem completamente.
Feche seus olhos e por cerca de dois minutos sugira a você mesmo que o corpo
está relaxando. Gradualmente o corpo se tornará relaxado. Então, por dois
minutos sugira que sua respiração está se tornando quieta e sua respiração se
tornará quieta. Finalmente por outros dois minutos, sugira que seus pensamentos
estão parando. Essa sugestão firme o levará a um completo relaxamento,
tranqüilidade e vazio. Quando a mente se tornar completamente calma, esteja
completamente acordado em seu ser interior e seja uma testemunha dessa paz.
Esse testemunhar levará você ao seu ser.
Vocês devem fazer essas duas meditações. Na verdade elas são
estratagemas artificiais e vocês não devem se agarrar a elas. Com ajuda delas,
a inquietação das mentes se dissolve. E da mesma forma que não mais precisamos
da escada ao completarmos a subida, um dia nós também iremos deixar esses
estratagemas.
A meditação atinge a perfeição no dia em que ela se torna
desnecessária. Esse estado é o verdadeiro samadhi, iluminação.
Agora a noite já está avançada e o céu está coberto de
estrelas. As árvores e os vales já foram dormir. Nós também vamos dormir agora.
Como tudo isso é quieto e silencioso! Nós também vamos nos fundir nesse
silêncio. Num sono profundo, num sono sem sonhos, nós vamos para o lugar onde o
divino habita. Esse é o samadhi espontâneo, não-consciente que a natureza deu
para nós. Através da meditação, nós também alcançamos esse mesmo espaço, mas
com a meditação nós permanecemos conscientes e alertas. Essa é a única
diferença. E essa é realmente uma grande diferença. Numa situação nós vamos
dormir e na outra nós nos tornaremos acordados.
Vamos agora dormir com a esperança de que o despertar também
se tornará possível. Quando a esperança é acompanhada por determinação e
empenho, ela certamente se realiza. É possível que a existência nos guie ao
longo do caminho. Essa é a minha única prece."
OSHO - The Perfect Way
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