O príncipe é um ladrão
Seduzidas por
estelionatários, muitas mulheres bem-sucedidas dão dinheiro a
"namorados" que conheceram pela internet, até perceberem o golpe
Verônica Dantas |
Arte: Edi Edson
veronica.dantas@folhauniversal.com.br
Quando conheceu o americano Andrew
pela internet, em junho deste ano, a professora de inglês Maria Cecília achou
que sua espera por um novo amor havia terminado. Aos 43 anos, 19 deles
dedicados a um casamento que acabou em 2010, ela se sentia pronta para viver
aquele romance. “Ele me pegou pelo lado mais fraco”, conta a catarinense.
“Dizia acreditar em Deus, ser solitário, sem família, sem amigos, e assim foi
ganhando minha confiança.”
Andrew tinha uma
história de vida triste, perdeu os pais ainda criança e estava viúvo havia 5
anos. Bem-sucedido profissionalmente, ele agora pensava em passar o resto da
vida ao lado de Maria Cecília. O que ela não sabia é que tudo que ele disse e
escreveu em quase 2 meses de relacionamento virtual era mentira. As fotos
enviadas por e-mail eram roubadas da internet e o nome usado por ele era falso.
Só após remessas em dinheiro que totalizaram R$ 20 mil para o suposto Andrew,
ela se deu conta de que havia caído num grande golpe – e que o príncipe
encantado não existia.
Maria Cecília não é seu nome verdadeiro. Como todas as mulheres com histórias parecidas em várias partes do mundo, ela agora se sente humilhada e tem vergonha de falar sobre o assunto, inclusive para a família. “Eu sou uma pessoa esclarecida, estou na segunda pós-graduação e, mesmo assim, caí na lábia de uma pessoa sem escrúpulos. Isso dói mais que o dinheiro que perdi”, lamenta.
A catarinense foi
mais uma vítima do “romance scam”, termo que é utilizado internacionalmente para
identificar um golpe organizado que tem como alvo pessoas cadastradas em sites
de relacionamento, emocionalmente vulneráveis e com mais de 40 anos. Em todos
os casos, o “scammer” (golpista) usa um perfil falso, computadores públicos e
argumentos suficientes para convencer suas vítimas que são europeus ou
americanos, viúvos, com filhos e à procura de um relacionamento sério.
Os nigerianos são hoje apontados como os principais golpistas na maioria das denúncias registradas – constatação feita após o rastreamento dos IPs (identificador de origem na internet) usados na comunicação com as vítimas. A fraude, aliás, é admitida pelo governo daquele país africano de 140 milhões de habitantes. Lá esse estelionato se enquadra no golpe do 419 (o 171 nigeriano), conhecido ainda como fraude da antecipação de pagamentos.
Dados do Internet
Crime Complaint Center (IC3) – site criado pelo Federal Bureau of Investigation
(FBI) e pelo National White Collar Crime Center (NW3C) para receber denúncias
de crimes cibernéticos nos Estados Unidos – indicam que só no ano passado mais
de 5,6 mil americanos caíram na conversa dos golpistas do amor e cada um
relatou ter perdido, em média, o equivalente a R$ 18 mil.
Um estudo da
University of Leicester, apresentado na conferência anual da Sociedade
Britânica de Psicologia em abril deste ano, estimou em 230 mil o número de
vítimas do “romance scam” na Inglaterra desde 2008, quando a fraude começou a
ser aplicada no Reino Unido. A estimativa do levantamento é que o golpe tenha
causado a todas as vítimas um prejuízo médio anual de cerca de R$ 120 bilhões.
Em julho, o jornal australiano “The
Sydney Morning Herald” publicou uma reportagem sobre “romance scam” e divulgou
que as perdas financeiras com o golpe na Austrália foram de cerca de R$ 44
milhões só no ano passado, com um prejuízo médio estimado de R$ 40 mil por
vítima.
Embora esse tipo de
golpe já tenha causado prejuízos financeiros e emocionais também no Brasil,
país que atingiu 82,4 milhões de usuários de internet no primeiro trimestre do
ano, segundo o Instituto Ibope, ainda não existem dados que indiquem o número de
vítimas por aqui. De acordo com o presidente do Instituto Brasileiro de Crimes
Cibernéticos (IBCC), Wanderson Castilho, não existem números oficiais,
principalmente porque as pessoas sentem vergonha de assumir que caíram em um
golpe e, quando assumem, não sabem direito a quem recorrer. “Nossa legislação
não acompanha a velocidade da internet. A Lei Azeredo ficou em discussão desde
1999”, critica o perito em crimes cibernéticos, referindo-se ao projeto de lei
sobre crimes da internet aprovado em maio último após 13 anos de intensas
discussões na Câmara dos Deputados.
Sabe-se que há um
número cada vez maior de pessoas que se envolvem com estelionatários do amor
graças, principalmente, à iniciativa de pessoas como a blogueira Meg D., que em
2010 criou o http://meg-golpistasvirtuais.blogspot.com.br com
o propósito de ensinar vítimas a se livrar dos “scammers”. Colaboradora de
sites anti-scam como o http://www.scamalert4u.com (que
registra e-mails de fraudadores), em janeiro ela decidiu postar informações
sobre os tipos de mensagens usadas por golpistas e como eles costumam agir.
“Hoje o foco maior do blog é publicar o endereço de e-mails de golpistas. É a única
arma realmente efetiva no combate aos crimes praticados por eles”, diz Meg,
cujo blog recebe, em média, 800 acessos por dia.
Outro blog que se
empenha em publicar denúncias contra “scammers” é ohttp://forascammer.blospot.com.br,
administrado por Vânia L. Desde que o blog foi criado, há cerca de 1 ano, ela
já recebeu quase 500 denúncias, uma delas sobre um golpista que tirou R$ 70 mil
reais de uma mineira, em um momento em que ela estava emocionalmente
fragilizada: havia perdido o pai e a mãe poucos meses antes de começar a
conversar com o golpista.
Nos dois blogs há
links para que as vítimas façam denúncias às autoridades competentes, dentro e
fora do País, entre elas a Polícia Federal. A Folha Universal procurou a
Polícia Federal em busca de informações sobre o assunto, mas a assessoria de
imprensa do órgão informou que a apuração de crimes cibernéticos é competência
da Polícia Civil. A divisão de comunicação e jornalismo da Polícia Civil do
Distrito Federal, por sua vez, informou não dispor de nenhuma autoridade para
atender ao pedido de entrevista.
Wanderson
Castillho, que também preside a empresa de segurança da informação E-Net
Security e já atendeu mais de 30 vítimas do “romance scam” nos últimos 3 anos,
conta ter identificado os golpistas em todos os casos para os quais foi
contratado. “Mas eu não pude fazer nada porque não sou autoridade. Além disso,
eles não acatam decisões que não sejam do país deles.”
Procurada pela
reportagem, a Embaixada da Nigéria no Brasil admitiu que o golpe virtual por
meio de namoro online é realidade no país, mas não apenas nele. “A insinuação
de que a fraude é peculiar apenas na Nigéria ou perpetuada a partir da Nigéria
não é senão falácia”, informou, por e-mail, o Ministério de Informação e
Educação da embaixada em Brasília (DF). “Embora reconhecendo o fato de que
poucos nigerianos podem ter essa forma ilegal de ganhar a vida, deve-se notar
que um grande número de nigerianos é igualmente vítima desse crime organizado”,
diz em nota oficial.
Ainda de acordo com
a embaixada, a Nigéria colabora com a United Nations Office on Drug and
Organized Crimes para combater fraudes na internet e mantém, desde 2003, uma
comissão de crimes econômicos e financeiros para investigar casos de extorsão
na internet, o Economic and Financial Crimes Commission (EFCC). Em julho, o
órgão divulgou a foto de Bike John Niye (veja imagem na página 16), um
estelionatário de 22 anos condenado a 1 ano de prisão após ter deixado pistas
de seu golpe. Usando nome falso, o rapaz convenceu a americana Laura Wallmam,
que conheceu num site de namoro, a lhe entregar o equivalente a mais de R$ 100
mil.
O golpista se apresentou à vítima
como um empresário que precisava da “ajuda” dela para comprar bens. Por
orientação dele, a americana enviou pelo correio um pacote com um ursinho de
pelúcia e um tipo sofisticado de celular. Dentro do ursinho havia dinheiro e
uma fotografia da vítima. O pacote, endereçado a Toby Encore (nome falso) no
subúrbio de Lagos, capital da Nigéria, tinha um número de telefone, o que
acabou levando a polícia nigeriana ao golpista.
As investigações
revelaram que o nigeriano havia recebido várias somas em dinheiro por meio da
Western Union, empresa de transferência de valores com 480 mil pontos de
atendimento espalhados por mais de 200 países. Para receber o dinheiro, o
golpista usava documento falso, que destruía após sacar a quantia
enviada.
Em fevereiro deste
ano, o tabloide britânico “Daily Mail” publicou uma história parecida sobre
envio de dinheiro. Vicky Fowkes, de 59 anos, também foi enganada por um falso
namorado que conheceu pela interntet e entregou a ele suas economias da vida
inteira. Um suposto engenheiro civil que dizia se chamar John Hawkins e vivia
na Inglaterra estaria na Nigéria a trabalho. Quando disse que retornaria à
Inglaterra e poderia encontrá-la, teria sido impedido de sair do país por dever
impostos. A quantia que ele pediu à Vicky Fowkes foi o equivalente a mais de R$
100 mil.
No caso da
catarinense Maria Cecília, citada no início desta reportagem, a verdade só veio
à tona quando, depois de esperar o suposto Andrew durante horas no Aeroporto de
Navegantes (SC), ela recebeu o contato de um homem se dizendo advogado de
Andrew e informando que ele não havia embarcado em Johannesburgo, na África do
Sul, porque tinha pego, por engano, uma mala com cocaína e, por isso, estava
detido na imigração. “Mesmo depois de eu ter enviado quase R$ 20 mil, continuam
tentando me convencer de que estão falando a verdade”, revolta-se ela.
Um estudo da
University of Exeter School of Psychology, encomendado pelo Escritório de
Comércio do Reino Unido, revelou que pessoas que já foram vítimas de golpe
estão propensas a cair em um novo, dos mesmos fraudadores. Um truque usado
pelos golpistas, diz o estudo, é o contato de um suposto advogado, funcionário
do governo ou da polícia do país do golpista oferecendo algum tipo de
solidariedade.
A paulistana Ana
Cláudia, de 44 anos, não chegou a enviar dinheiro ao “pretendente virtual” que
conheceu no Facebook em julho, mas acreditou que estava conversando com um
viúvo de Londres que se chamava John Webb e dizia ser engenheiro naval.
Acreditou também quando ele disse que viajaria para a Austrália. E teria
acreditado mais se a história inventada não fosse tão mirabolante (veja trechos
das mensagens enviadas nesta página).
A designer gráfico Bianca, de 39
anos, também desconfiou da história triste do engenheiro civil com sobrenome
brasileiro que morava em Londres e não enviou os US$ 900 (R$ 1,8 mil) que ele
queria para uma “emergência”. Mesmo assim, Bianca fez uma denúncia à delegacia
de crimes cibernéticos em São Paulo. “A mulher que me atendeu disse que, se
fosse eu, não mexeria com o assunto. Fiquei com medo”, diz a moça, que conheceu
o golpista no site de namoro EBDA, voltado ao público evangélico.
A amazonense Renata, 40 anos,
também conheceu um golpista em um site evangélico, o Amor em Cristo. Dizendo
ser divorciado, sem filhos e interessado em casar, o suposto americano
convenceu Renata a enviar dinheiro. “Tinha muitas dúvidas sobre o que ele dizia
e, mesmo assim, acreditei”, arrepende-se ela, que tirou tudo o que tinha na
poupança (R$ 300) e fez um empréstimo bancário de R$ 1,7 mil, que vai pagar em
24 parcelas.
Ela ‘caça’ golpistas
A tentativa de golpe que um suposto russo tentou
aplicar em Márcia, de 50 anos (foto ao lado, escurecida a pedido), a incentivou
a virar caçadora de “scammers”. A abordagem foi feita pelo Facebook em fevereiro
e a troca de mensagens durou 37 dias. “Na segunda mensagem já comecei a achar
muito amor para quem só tinha fotos. Peguei parágrafos e joguei no Google para
descobrir de onde tirava tantas palavras apaixonadas.”
A partir do que leu sobre “scammers”,
Márcia ficou esperando que ele anunciasse a tal viagem à África. O golpista
pediu US$ 2 mil (R$ 4 mil). “Como não enviei, o amor acabou naquele dia mesmo”,
diverte-se, dizendo que é muito fácil identificá-los. “São sempre viúvos e com
filhos, a esposa morreu de câncer ou acidente, os pais também morreram,
geralmente são filhos únicos e não têm amigos.”
Cadastrada no site de
relacionamento Par Perfeito, ela costuma rastrear e-mails suspeitos e faz
buscas de imagens no Google. Os IP’s, diz ela, são normalmente do Reino Unido,
dos EUA e da África.
Fragilidade exposta
O envolvimento amoroso em um momento onde há
fragilidade emocional pode propiciar dificuldade de discernir o certo e o
errado, o bom e o ruim, o saudável e o patológico. A afirmação é do psiquiatra
Luiz Cuschnir, idealizador e coordenador do Gender Group do Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Segundo ele, a carência
afetiva, quando em uma dimensão maior do que a possibilidade de reflexão, leva
a uma cegueira.
“Se há um terreno fértil com essa
fragilidade e se superpõem fantasias que fazem parte do mundo interno emocional
da pessoa, ela pode perder-se e agir de uma forma sem o controle necessário
para não fazer o que não deve de acordo com seus valores e possibilidades”, diz
Cuschnir, criador do Centro de Estudos da Identidade do Homem e da Mulher
(Iden), ao comentar sobre o fato de muitas pessoas enviarem dinheiro aos
golpistas.
A perda do dinheiro, no entanto,
é apenas um detalhe nas histórias das vítimas. No estudo da University of
Leicester, apresentado na Conferência Anual da Sociedade Britânica de
Psicologia em abril, depressão, culpa, vergonha, constrangimento, raiva e medo
foram apontados como os principais efeitos que aparecem depois de um golpe
emocional. “A pessoa que foi vítima de um golpe romântico deu tudo de si”, disse
ao jornal australiano “The Sydney Morning Herald” o psicólogo forense Donald
Thomsom, da Deakin Universtity Australia.
A experiência traumática, analisa
Cuschnir, pode servir de aprendizado. “Dar outros valores à vida amplia os
horizontes e indica caminhos novos que podem ser de muita valia para quem
sofreu essas perdas”, analisa o psiquiatra. Na opinião de Erica Queiroz, especialista
em relacionamentos e autora do livro “O amor está na rede”, a internet ainda é
o melhor lugar para se encontrar alguém quando a juventude já ficou para trás.
Ter sido vítima de um golpe, segundo ela, não significa que a pessoa tenha de
desistir de sua busca pela felicidade. “É só não acreditar que existe príncipe
encantado.”
Erica observa que existem golpes
em todos os lugares, não só na internet. “O problema é que a vítima, na maioria
dos casos, está com baixa autoestima e se apaixona por uma ilusão.” Uma maneira
de se proteger, diz, é não se relacionar com estrangeiros. “Se já é difícil checar informações aqui, imagine de
fora.”
http://www.folhauniversal.com.br/capa/noticias/o-principe-e-um-ladrao-14658.html
publicado em 16/09/2012 às 00h00.
publicado em 16/09/2012 às 00h00.
eu fui vitima deste mesmo cara so que o nome dele era logan trevor ele me contou uma historia triste que tinha ficado viuvo e tinha uma filha de 11 anos que vivia com a baba pois ele passava 4meses no mar e 3 en terra na segunda mensagem ele ja nao podia maisviver sem min que eu era a mulher da vida dele ele ia vir agora dia 28 deste mes ai os piratas iam atacar o navio por isso eu tinha que ficar no lado dele pois ele so confiava em min mais do que nele mesmo perguntei oque eu tinha que fazer ele disse que tinha que mandar joias e muito dinheiro por que nao podia coninuar aviagem com todos aqueles valores que eu mandase rapido o endereco da minha caixa postal e o meu nome completo pra que eu guardace tudo ate o dia 28 que ele voaria pra ca pra viver o resto do vida comigo foi so ai que eu me dei conta que era uma mentira e ele online me dava as instrucoes quando ele viu que eu tinha me dado conta ficou muito bravo e me chamou de idota fiquei muito mal com isso tudo pois estava acabando de sair de uma depressao profunda e quase cai de novo por tar fragilizada e carente e agora lendo aqui terminou de me cair aficha obrigada pelos esclarecimento luiza
ResponderExcluirFUI PERSEGUIDA, LESADA, ENGANADA E ENROLADA POR ESTES VAGABUNDOS QUADRILHEIROS. PERDI CERCA DE CINCO MIL REAIS A HÁ 2 ANOS, PORÉM MEU PREJUÍZO $$$ NÃO PAROU P/ AÍ. FIZ ATE EMPRÉSTIMOS EM BANCOS PARA JUNTAR ESSE MONTANTE P/ ESSES MALDITOS LADRÕES. AINDA ME ENCONTRA ENDIVIDA P/ TAL CAUSA.
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